segunda-feira, 27 de julho de 2009

Justiça ou Revanchismo?

Marina Yatsuda Frederico
O Major Sebastião Curió Rodrigues de Moura abriu ao jornal Estado de São Paulo no dia 21 de Junho de 2009, arquivos que comprovam a execução de 41 guerrilheiros no Araguaia que já estavam rendidos e presos não tinham e sem possibilidades de defesa. Esta chacina ocorreu no período da Ditadura Militar, nos anos de 1972 a 1975, quando integrantes do Partido Comunista do Brasil foram para região do Araguaia (Sul do Pará) com o objetivo de derrubar o governo e ajudar a população daquela região que até então conhecia apenas a miséria, doenças causadas por falta de cuidado, pela fome e pela ignorância. O Exército invadiu aquela região em busca destes militantes (injustamente conhecidos como terroristas), e pode-se dizer que com eles guerrearam (de forma covarde, devido à desproporção de Forças) até o ano de 1973, quando iniciou a campanha de genocídio aos participantes da guerrilha e seus apoiadores. O objetivo era matar, os meios: torturar até mesmo de moradores da cidade muitas vezes, para obter informações dos esconderijos do inimigo. Os corpos nunca foram entregues a familiares e estão desaparecidos até hoje.
Major Curió foi um dos participantes e não mostra nenhum arrependimento ao declarar “Se tivesse que combater novamente a guerrilha eu combateria, porque estava erguendo um fuzil no cumprimento do dever, cumprimento de uma missão das Forças Armadas, para assegurar a soberania e a integridade da Pátria’’ e utiliza argumentos sínicos como, por exemplo, “Não se corta erva daninha pelo caule. “É preciso arranca – lá pela raiz, para que não tenha novamente.” Declarações feitas ao Estado de São Paulo nos dias 21 de Junho de 2009 e 22 de Junho de 2009.
A versão dos oficias militares conhecida até então é que os militantes que morreram estavam de armas na mão, isto é, em pleno combate. Alguns negavam a existência da Guerrilha do Araguaia que no período, a censura proibiu que se noticiasse qualquer coisa a respeito. Após as revelações de Major Curió, a busca pelos corpos iniciou-se, pois não se pode mais usar como desculpa a falta de documentos e dados.
O medo que achem estes corpos e descubram como foi cada assassinato paira até hoje sobe as Forças Armadas e por isso o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vetou a participação de familiares nas buscas, alegando que por ser parte interessada nas investigações agiriam sem isenção. Todavia, em relação às Forças Armadas, não só permitiu a participação nas investigações como deixou a operação ser comandada pelo exército. Este não é parte interessada. É a parte justamente acusada, embora Jobim diga que é revanchismo da parte dos parentes das vitimas quererem a punição de torturadores e assassinos, pois diz que a Lei da Anistia obriga a anular qualquer ação ocorrida no período militar. Porém o ministro se esquece que a Anistia não cobre crimes bárbaros como tortura, execução de prisioneiros e sumiço de corpos. Estes são considerados crimes contra a humanidade e, portanto, não podem ser “esquecidos” e “arquivados”. Para Jobim, a Justiça mudou de nome, chama-se agora “revanchismo”. Esperamos que a lei não ceda a esta mudança.

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