domingo, 17 de outubro de 2010

Neobandeirantismo de Serra

Sábado, 03 de outubro, 22 horas.

[Ednilson Aparecido Quarenta] - Prof. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo

Recepcionado pelos uivos dos meus cachorros, pelo vão do portão, panfletos foram jogados ao meu quintal. Na vizinhança a cena e barulheira foi a mesma. Pensei em uma campanha institucional de última hora; a descoberta de um novo mosquito ou alguma epidemia que se multiplica com rapidez nessa cidade. Recolhi o panfleto e em letras garrafais descobri que a Dilma não gosta de mim. Sigo na leitura percebo que Dilma não gosta de mim e nem de ninguém que mora em São Paulo. Mais ainda, ela não gosta de aeroporto, de deficiente físico, de doente, de criança, de evangélico e de católico, enfim, que e mulher não gosta de nada. Guardo o apócrifo panfleto, e as imagens sugeridas com a força dessas palavras, me deixam por horas atormentado. Enquanto o sono não vinha, algumas cenas antigas voltaram da minha memória. Lembrei de um fulano que em um dia antes da eleição para presidente em 1989, me alertou que o Lula iria invadir o meu apartamento além confiscar a minha poupança. Lembrei de outras cenas que em todas as eleições são novamente requentadas: as FARCS, o aborto, o MST, o som do Lula, etc.

Ao neobandeirantismo de plantão, só falta resgatar o jargão da antiga locomotiva – São Paulo - que arrastava sozinho um montão de estados vazios. A fidelidade com que atuam, e a filiação com a tradição conservadora da inteligência paulista, nessas eleições, já beirou o absurdo. Aos “verdes” que chegaram aonde chegaram, por seus méritos e qualidades, mas também com uma certa leniência midiática em fabricar um agonizante segundo turno, o alerta contra essa hipócrita onda conservadora. Daqui para frente ouviremos o clamor de outras marchas, saudosos das calçadas da Maria Antonia, clamando pela volta de seus fantasmas, que entrincheirados no editorial de alguma revista ainda cantam glórias ao “Estado coração do Brasil”, “oficina de homens”, “raça de gigantes”, “planta gente” do nosso país, na luta contra o PT a Dilma e o Lula.

Ainda há tempo para que os paulistanos e paulistas recuperem a utopia radical do Professor Sérgio Buarque de Holanda e de Florestan Fernandes, e de tantos outros que em tempos sombrios, pensaram em um país sem rivalidades ou bairrismos regionais. Mesmo porque, foi por conta dessa arrogância da burguesia Piratininga é que fomos obrigados a engolir no passado a eleição de Collor, Jânio Quadros, Maluf, Fleury e Celso Pita.

Para que o Brasil continue crescendo e distribuindo renda, em defesa da Universidade Pública, que no governo Lula recuperou o seu prestígio em relação ao descaso e abandono da era FHC, voto sem medo em Dilma.

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