quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Estética da Pixação.

Vitor Quarenta
Vivemos em uma cidade de fato singular, acabo de saber que foi aqui em São Paulo que a pixação teve sua origem, sendo assim um movimento legítimo da Paulicéia ritmada.
A Pixação é algo que nos deparamos no nosso dia-dia adentrando nossa frente em cada esquina, cada muro, cada espaço urbano.
Confesso ter passado grande parte da minha vida reprimindo esse tipo de movimento devido a sua grosseria estética, se é que posso cometer esse julgamento pouco digno, mas de uns tempos para cá tenho me pego pensando e defendendo os pixadores da São Paulo que não dorme.
Pelo simples fato de ser um legítmo movimento de apropriação do espaço urbano que nos é tão estranho. Deixar o nome lá pixado em preto com uma tipografia pouco compreensível nas portas do Banco Safra ou da Venda de Verduras do italiano anarquista nada menos é do que tornar a cidade menos estranha aos seus habitantes, e principalmente aqueles menos privilegiados, a quem ela normalmente é mais hostil e rude.
Não hei de entrar no mérito do desenho em termos qualitativos, ou mesmo se aquilo é de fato arte, pois embora eu a considere, não é esta a questão na qual pretendo me apegar.
Mas sim como as pixações interferem no cotidiano, e se levadas para a galeria elas ainda trazem sua essência enquanto manifestação artística urbana e popular. Em primeiro lugar é importante discutirmos o que é público, o que é o espaço público. O recorrente argumento de que aquele muro pertence a um "cidadão de bem" e o pixador não tem o direito de vandalisar aquilo com sua natureza criminal é bem presente nos discursos de quem se manifesta contra o movimento de pixação, logo, começo nesta mesma chave, só que ao contrário.
Primeiro eu gostaria de ir logo ao ponto, bem claramente: Do muro pra dentro é seu, mas do muro para fora, incluindo o muro, meu querido, é tudo nosso! É da cidade, e sendo da cidade pertence a todos, todos podem e devem interferir naquele espaço pois a cidade não deve ter sua funcionadlidade ligada somente a estadia de seus munícipes, ou ser uma paisagem tranquila, a cidade é o lugar dos confrontos, entre as ideologias, entre as realidades e no caso entre as estéticas.
E antes que venham com aquele discurso fraco e batido de que "seu direito acaba onde o meu começa" digo lhe que no caso os direitos estão todos misturados, e se depender de mim e dos pixadores, eles seram escritos e atravessados nos muros das nossas casas.
Então cabe a nós interferirmos no espaço urbano. A nossa representação de classe(filhos da burguesia), cá entre nós, não tem nenhuma produção ligada a este tipo de intervenção (podem desistir! que consumir não é intervenção no espaço, pelo contrário, e a reafirmação de uma estética de massa). Os pixadores hoje, são os que melhor modificam e se apropriam deste espaço, escrevendo os seus nomes, se indentificando com a cidade.
Mas não me venham também com discurso de ONG, que sempre, repito, sempre é hipócrita e mercadológico, de que vai selecionar um muro no seu beco particular ou da sua galeira de "strett-art" ou espaço do meio-ambiental para que os pixadores e grafiteiros desenhem e que todos possam conviver em paz. Esse discurso pode parecer uma alternativa à estética atual,mas nos engana, pois ele a reafirma, se apropriando desses movimentos, e vendendo suas mercadorias atraves desses movimentos(vejam os becos da Vila Madalena, o quão mercadoria aquilo já virou.).
Lembremos, meus caros amigos, não estou discutindo estética, pois definitivamente os becos da Vila Madalena, entre outras centenas parecidos são belíssimos e confesso ser conservador demais para discutir estética, digamos que minha caretisse artística não cai bem à essa discussão tão revolucionária.
Também não peço que os governos a partir de então incluam pixo nas "leis das cidades limpas", não quero ver o pixo sendo apropriado pelos tucanos e democratas com suas confusões urbanas ou até mesmo pelos petistas que em grande parte, só fazem média, eu quero ver o pixo na ilegalidade, pois só um movimento esteticamente violento pode responder a altura a violência estetica do capitalismo.
A critica e a resposta tem que ser radical, não pode ir para as galerias, não que as galerias não sejam o lugar da revolução estetica, mas esta especifica só é revolucionaria quando feita na urbes, na galeria ela fica domada, como o capital a quer, calminha.(já imaginou um pixo da Hello Kitty?)
Eu entendo que estes artistas ou interventores tenham de ganhar seu dinheiro e que todo mundo quer satisfazer seus desejos, mas na galeria não é pixo, é uma copia estética do pixo, mas não o é!
Não podemos levar os pixos para as galerias convencionais, temos que entendermos a rua como a galeria legítima para esse tipo de arte, temos de mudar nossa concepção de cidade, a cidade é um museu, uma galeria, cabe a nós ressigficá-la frente ao ritmo de produção. As obras já estão expostas, devemos diminuir nosso ritmo para vê-las.
Mas não devemos entender a cidade como uma galeria que proteje suas obras, por serem elas sacras, pelo contrário, a insegurança da obra na cidade é o seu maior valor museológico, a obra enquanto interina,uma obra na cidade que não seja perene, que não fique trancafiada em uma caixa de vidro, como a Monalisa. Que seja destrutível, para que então, possa ser recriada e assim se sustentará a verdadeira arte urbana.
Confesso não apreciar a estética do pixo, mas a arte e os movimentos estéticos em geral são como a espuma de uma bebida, elas só se sobressaem do que de fato é a sociedade. A sociedade planta sua própria cultura e a sua arte, e cabe a nós entendê-las melhor. Uma sociedade como a de hoje não pode pedir mais de suas formas artísticas populares do que o pixo, o grafite, pois eles são legitimos e refletem de forma contrária uma cidade de passagem.
Então meus caros, me manifesto aqui favorável à pixação, e caso esta venha a ocorrer no meu muro, aconselho o mesmo tipo de entendimento caso aconteça a vocês: Se dê por contente que seu muro foi apropriado, foi modificado. Caso não goste da modificação, vá até o muro do teu vizinho ou até o de alguém do outro lado da cidade e pixe, modifique,mas não resmungue por algo tão interessante e popular, pois aqui isto é raro, você acabada de presenciar na sua pele, digo parede, uma movimentação política de apropriação urbana do Séc XXI, é mais raro que ouro. Se satisfaça por ter ocorrido contigo, entenda o privilégio que você teve, e por fim, respeite a pixação e seus interventores, os pixadores.

2 comentários:

  1. *eu tentei ler mais eh merda demais pra uma pessoa soh...

    *cara o muro da minha casa eh meu .... eu paguei o cimento, eu paguei a tinta.
    entao c vc pago o seu carro, eu tenho direito d arranha a porta soh pq tah do lado de fora???

    *essa porra nm comessou em sao paulo
    em 1940 a mafia em chicago jah escrevia em muros puplicos

    *o Pixe eh apenas mais uma forma de rovolta, a menos violenta, mais apenas uma revolta....

    *grafitte eh arte... pixador nm qr fazer arte ele qr mesmo eh desmoralizar o bagulho!!

    *Vc pelo jeito eh mais um playboy pixador q nm tem vida. Mano vai arranja um emprego .......
    Vai pinta Parede pra vc ver se eh legal limpar essa merda !!!!!!


    Tah Aih Flei .....

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  2. hahaha, calma meu caro Enzo, a parte correta do seu discurso é quando você que eu sou um playboy, mas infelizmente seu tempo de acerto durou pouco.
    O senhor peca ao dizer que isso começou em Chigado na década de 40. Confundir escrever em lugares públicos com pichação é comum, na verdade o hábito de escrever em lugares publicos vem desde a grécia antiga, se você for buscar na literatura que diz respeito a isto, existem frases de protestos desde a grégia, passando por roma antiga e em quase todas(se não todas) as grandes civilizações.
    Mas a pixação como um movimento estético nasce e se consolida na cidade de são paulo, tendo o seu ápice nos anos 90 até a contemporanedade.
    Quanto a questão do espaço publico você deve encarar que o que está exposto ao publico está sujeito a interferencias de espaço, e o interessante é isso, é diferente a questão do caro que você erroneamente colocou pois riscar um caro não vem se caracterizar como um tipo de arte, ou uma estética, ao contrário da pixação que de fato é arte. Na verdade sua comparação foi bem infeliz meu caro, pois elas não tem o mesmo eixo de discussão. O pixe é uma expressão artistica, que apresenta seu conteudo e seu cunho politico, e se defronta com criticas, o que é totalmente cabível.
    Quando vocÊ diz "desmoralizar o bagulho" nesse seu vasto e belo repertório linguistico que apresenta, você quer dizer o que? Que ele desmoraliza a cidade? Qual é a conduta moral de uma cidade tão conservadora como São Paulo. Lembre-se meu caro, as palavras tem suas funções, argumentar não é só misturá-las e jogá-las para ver o que acontece.
    A cidade não tem moral, ou conduta ética que creio ser o termo mais apropriado, o pixo é só o colarinho condizente com o este denso como de cerveja.
    Meu querido, quanto a eu arranjar um emprego, eu não sei por que esse pessoal conservador quer que os outros trabalhem tanto, deve ser pra ser explorado assim como eles, e ficar alienado à tudo o que há.
    Trabalhar eu deixo pra ti, já que você tem tanto fetiche por isto, mas de resto, muito obrigado por ter lido e comentado, continue lendo o blog, um forte abraço companheiro Enzo!

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